A invasão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) revelou outro aspecto que teria desdobramentos trágicos nos territórios ocupados: o anti-semitismo. A presença de um grande número de comunidades judaicas no país sempre foi apregoada pelos nazis como prova da conspiração entre bolcheviques e judeus, que teria sido responsável pelos males que assolaram a Alemanha após a 1ª Guerra. Os judeus começaram a ser sistematicamente perseguidos na Alemanha em 1933, bem antes da guerra. Mas foi nos territórios soviéticos que o anti-semitismo se manifestou numa vertente até então inédita: o extermínio sistemático. Até a invasão da URSS não se pode afirmar que havia o objectivo de realizar o extermínio, mas o aumento brutal do número de prisioneiros, que superlotou campos e guetos, e a percepção de que a vitória na URSS não seria rápida, o que fez os nazis concluir que deportar judeus para o leste consumia homens, armamentos e recursos demais. O impacto da notícia em Auschwitz foi tamanho que se passaram a realizar duas e não mais reuniões semanais. Todas às terças e sextas, pontualmente às 9 horas, quando se juntava o pessoal para discutir a administração do campo, garantir o ritmo das obras em Birkenau e coordenar a chegada dos novos prisioneiros. Num desses encontros foi decidida a construção de novas câmaras de gás. Adaptadas a partir de duas velhas casas, as chamadas “casinha vermelha” e “casinha branca” tornaram-se-iam, na prática, duas caixas de tijolos com portas e janelas lacradas e apenas duas aberturas: uma na frente por onde os prisioneiros entravam caminhando e uma saída na parte de trás, por onde os corpos eram retirados.
Disfarçaram-se as câmaras de gás em casas de banho, para que os prisioneiros permanecessem calmos, sem reclamar, sem tentar fugir ou provocar confusão. A oferta do banho tinha, ainda, um objectivo muito prático e também muito cínico. Nus, os corpos depois de mortos não precisavam ser despidos, o que poupava as roupas para serem reaproveitadas. Entre os prisioneiros enviados para lá, 99% estavam mortos duas horas após desembarcar do comboio. O aumento do número de mortes trazia outro desafio logístico: livrar-se de tantos corpos. Em Auschwitz, no início, eles eram enterrados, mas com o verão o cheiro tornava-se insuportável. Por essa razão, a partir de finais de 1942 passou-se a utilizar um eficiente método crematório: a um metro do fundo das covas, instalavam-se barras de aço transversais. Depois, despejava-se gasolina no buraco. Sobre as barras depositavam-se os corpos intercalando-os com lenha, para que ardessem completamente. As cinzas caiam pelo vão entre as barras, liberando a grelha para que pudesse ser usada novamente. Quando elas atingissem a altura das barras de aço, bastava erguer a estrutura para cima, até que toda a vala ficasse repleta de cinzas humanas.
É notório o mórbido esforço dos arquitectos em Auschwitz na 2ª metade de 1942. No projecto inicial, os prédios sob o nível do solo serviriam como necrotérios, para onde os corpos seriam levados e queimados. No entanto, as plantas passaram por consecutivas alterações. O enorme porão foi dividido em salas menores e a rampa entre os porões, por onde desceriam os corpos, deu lugar a uma escada de degraus largos. Algo aparentemente incoerente, já que o prédio receberia mais gente morta do que viva. No final das alterações, o necrotério havia se transformado numa super câmara de gás, que matava até 2 000 pessoas numa hora e garantiria a fama do lugar. Outro nome para sempre associado a Auschwitz, será o do médico Josef Mengele, que chegou ao campo no início de 1943. Mengele instalou-se num dos crematórios , onde mantinha um consultório e um laboratório. Ali, ele realizou estudos genéticos- uma obsessão nazi - e fez experiências médicas ligadas à guerra, como com gangrena e queimaduras. Uma das suas actividades predilectas era realizar autópsias simultâneas em gémeos…
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