domingo, 1 de junho de 2008

Fábrica de Matar - Parte IV




Em meados de 1943, Auschwitz atingiu seu tamanho máximo. A estrutura parecia-se então com uma pequena cidade. Para os soldados da SS, a vida era boa. Havia mercearias, cantinas, cinema, clube desportivo e um teatro com programação regular. O complexo industrial montado pela IG Farben produzia de armamentos a tinta e acabava por facturar cerca de 250 milhões de dólares ao ano, em valores actualizados. Os cerca de 100 000 prisioneiros ficavam divididos em 45 subcampos. Havia um só para mulheres, com 30 000 prisioneiras. Perto dali ficava o “Canadá”, uma área que recebeu esse nome porque o Canadá era tido como um país rico, próspero e, sobretudo, pacífico. Lá funcionava a triagem da bagagem dos presos: de roupas a relógios, o que pudesse ser reaproveitado era enviado para a Alemanha. Para os prisioneiros, aquele era um dos poucos serviços almejados, pois era onde se vivia melhor. Havia também prisioneiros que trabalhavam directamente com os alemães, como alfaiates, barbeiros e garçons. Mas o trabalho sujo sobrava para o comando especial, o grupo de prisioneiros, judeus ou não, que ajudavam os alemães na operação dos assassinatos. Cada conjunto de câmaras e crematório funcionava com 100 prisioneiros e apenas 4 alemães, aos quais cabia somente introduzir os cristais de Zyklon B. Os prisioneiros eram quem recolhia os corpos e os levava a um elevador. Outra turma os recolhia lá em cima e tratava de queimá-los nos fornos ou em grandes valas a céu aberto. No início de 1944, os Aliados sabiam o que ocorria ali e nos restantes campos de concentração. Os prisioneiros passaram a conviver com a esperança (e com a desilusão) ao verem e ouvirem aviões aliados sobrevoar o complexo. Os prisioneiros perguntavam porque razão as linhas de comboio ou as câmaras de gás não eram bombardeadas. E essa é uma das grandes questões da guerra que continuam sem resposta...
Com os Americanos e Ingleses tomando o ar e o Exército Vermelho atacando pelo chão, o ritmo de mortes em Auschwitz caiu. Em 1945, veio a ordem para que se esvaziasse o campo. Documentos, plantas e telegramas foram queimados e crematórios e câmaras de gás, destruídos. Os soviéticos haviam interrompido as linhas e os comboios deixaram de chegar ao campo.
Não havia muito mais gente a libertar: apenas 1 200 prisioneiros fracos e doentes que haviam sido abandonados. A 30 de Abril, Adolf Hitler suicidou-se num porão de Berlim e, um a um, envenenados, enforcados, capturados, os seus homens de maior confiança desapareceram da lista dos sobreviventes do 3º Reich.
Em 1963, os 22 últimos acusados por crimes em Auschwitz foram julgados: 17 saíram condenados, 6 à pena máxima de prisão perpétua. Ao todo, 8 000 homens da SS trabalharam em Auschwitz. Sete mil sobreviveram à guerra. Oitocentos foram julgados. A 90% deles nunca foi imputado qualquer crime...

Fonte: Baseado no texto de Celso Miranda, "Auschwitz - Entenda como funcionava a indústria da morte", presente na edição 243 da revista SuperInteressante

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